O jornal The New York Times abriu o caminho, nos EUA, para inúmeros órgãos de imprensa que pretendem reclamar, na justiça, proteção a seus trabalhos criativos, que são usados por grandes empresas de tecnologia artificial, para treinar seus chatbots — sem remuneração e sem pedido de permissão de uso.
Por violação de seus Direitos autorais, o jornal moveu uma ação em um tribunal federal de Manhatan, New York, contra a OpenAI, criadora do ChatGPT, e a Microsoft, que tem 49% de participação acionária da OpenAI e criou o Bing Chat.
O NY Times alega que as duas empresas “usaram milhões de seus artigos, protegidos por direitos autorais, para construir suas tecnologias que, agora, se tornaram extremamente lucrativas e passaram a competir diretamente com seus próprios serviços”, escreveram os advogados do jornal em sua petição.
Em uma declaração, a OpenAI afirmou que respeita os direitos de criadores de conteúdo e que está comprometida a trabalhar com eles “para se assegurar que se beneficiem da tecnologia de IA e dos novos modelos de receita”. Disse que as conversações com o NY Times têm sido produtivas e que se surpreendeu com o processo contra ela.
Juristas disseram ao Washington Post que o NY Times — e outras publicações que vierem a processar as rés – terão alta probabilidade de vencer na justiça, se provarem que as violações de direitos autorais se devem a reproduções diretas de seu trabalho protegido, em vez de transformações de informações que coletam na internet.
Isso é o que as ferramentas de IA, tais como o ChatGPT e o Bing Chat fazem. Seus “grandes modelos de linguagem” (LLMs — large language models) ingerem enormes quantidades de texto, copiados da internet, para aprender as conexões entre palavras e conceitos. E, então, desenvolvem a capacidade de predizer que palavra usar em seguida, em uma sentença, o que lhes permite imitar a fala e a escrita humana, explica o Washington Post.
Mas as empresas de tecnologia devem observar as regras fundamentais de direitos autorais, tais como: “número 1, não roube; número 2, se o conteúdo não é seu, peça permissão para usá-lo; número 3, se você precisa desses dados ou dessas informações, pague por eles, como todos os outros fazem. Essa é uma maneira estabelecida de se fazer negócios, mas as empresas de IA a ignoram”.
Desde agosto, pelo menos 583 organizações jornalísticas, incluindo o NY Times, o Washington Post e a Reuters, instalaram bloqueadores em seus websites, para impedir que as empresas de tecnologia continuem “roubando” seu material noticioso, para alimentar seus chatbots.
O NY Times prevê que o uso dessa tecnologia também apresenta uma “crise existencial” para as organizações jornalísticas, que vêm lutando para encontrar maneiras de substituir receitas que, antes, geravam através de seus lucrativos produtos impressos.
As versões eletrônicas dos jornais, bem como das publicações eletrônicas, que dependem de anúncios para gerar receitas, também estão sendo ameaçadas pelos chatbots. Além disso, mais de um terço do tráfego no website do NY Times vem de buscas orgânicas. E há um risco de queda das receitas baseadas em busca, também por causa dos chatbots.
O número de jornalistas nas redações declinou em mais de 25%, entre 2008 e 2020, de acordo com pesquisas do Pew Research Center.
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