Hoje, a cidade de Natal alvorece triste. Suas mulheres estão órfãs da mãe da busca por equidade. É o adeus da histórica e aguerrida militante do movimento de mulheres potiguar, Elizabeth Mafra Cabral Nasser.
As reflexões sobre as relações de gêneros perderam a voz ativa e altiva de Elizabeth. Mas, seu pensamento, exemplos e trajetória nos impulsionam a continuar seu legado de luta por igualdade entre mulheres e homens e pelo fim da opressão do gênero feminino e da submissão da mulher. Seu lema, Viva a diferença com direitos iguais, nos fortalece.
Sua batalha crescente desde 1986 ao inaugurar e conduzir o Conselho Municipal dos Direitos da Mulher – CMDM – é a nossa herança, que prometemos honrar para sempre, em prol da cidadania plena das mulheres natalenses.
Muitas de nós não seríamos protagonistas de nossas vidas sem o movimento vanguardista de Elizabeth, e por certo, o CMDM não seria maiúsculo. Por isso, nem o nosso muito obrigada, nem quaisquer homenagens por nós prestadas, serão suficientes para agradecer-lhe por tudo. Nos resta a poesia, palavra feminina de reflexão infinita.
Eu-Mulher
Uma gota de leite
me escorre entre os seios.
Uma mancha de sangue
me enfeita entre as pernas.
Meia palavra mordida
me foge da boca.
Vagos desejos insinuam esperanças.
Eu-mulher em rios vermelhos
inauguro a vida.
Em baixa voz
violento os tímpanos do mundo.
Antevejo.
Antecipo.
Antes-vivo.
Antes – agora – o que há de vir.
Eu fêmea-matriz.
Eu força-motriz.
Eu-mulher
abrigo da semente
moto-contínuo
do mundo.
Conceição Evaristo (literatura afro-brasileira, nascida em 1946 em Minas Gerais)
- Texto da conselheira Analúcia Azevedo Silva
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