Gênio! Primeiro papa da era moderna a renunciar ao pontificado, o alemão Joseph Ratzinger ao projetar a morte anunciada, no dia 28 de fevereiro, de seu alter ego Bento 16 será o primeiro sumo sacerdote a sair andando da Praça de São Pedro com destino a uma residência pertencente à própria Igreja – e não, como todos os demais, desde a única renúncia registrada anteriormente, no século 16, deitado, coberto de glórias, dentro de um caixão. Nenhum daqueles papas mortos ressuscitou. Ratzinger, ao contrário, irá recuperar sua própria vida, deixando atrás de si envergonhados e humilhados todos os que contra ele praticaram a costumeira luta interna que corre solta na Santa Sé.
Fala, sobre o gesto papal, o teólogo suíço Hans Küng: "A decisão de Bento 16 merece grande respeito, é legítima, compreensível e também corajosa. Nunca esperei que este papa conseguisse me surpreender, algum dia, de maneira tão positiva", disse o estudioso, com quem Ratzinger teve mais de uma polêmica. O registro é da professora do Departamento de Teologia da PUC-Rio, Maria Clara Lucchetti Bingemer.
Traído por seu mordomo, Paolo Gabriele, que divulgou à mídia, no ano passado, um pesado lote de seus documentos pessoais, e após ser informado por um triunvirato de cardeais octagenários escolhidos a dedo – o espanhol Julián Herranz, 82 anos; o italiano Salvatore De Giorgi, 82 anos, e o eslovaco Jozef Tomko, 88 anos -- que a Cúria Romana resistiria firmemente às suas ordens de transparência administrativa nos negócios do Vaticano, Bento 16 começou, então, a agir como Ratzinger. Joseph Ratzinger, o cardeal que fora o braço forte de Karol Wojtila, Papa João Paulo 2º, diante dos seus pares, como chefe da Congregação para a Doutrina da Fé, possibilitando ao chefe a tranquilidade necessária na retaguarda para fazer nada menos do que derrubar o comunismo e mudar o mundo em definitivo. Uma espécie de secretário-geral da Igreja, astuto a tal ponto que, sustentando o papa polonês, fez-se o primeiro papa alemão da história. Molezinha?
Ontem, na última missa de seu pontificado com data para expirar, voltou a ser Bento 16 e deu uma aula a seus traidores. Abriu, como nunca antes, o verbo quase divino. "Jesus denunciou a hipocrisia religiosa, o comportamento que quer aparecer, a atitude que busca o aplauso e a admiração", disse ele, diante de cinco mil fiéis. "O rosto da igreja é, às vezes, deturpado pela divisão no corpo eclesial", cravou, falando abertamente na luta interna que, suspeita-se ainda hoje, pode ter matado, por envenamento, o antecessor de seu antecessor, o sorridente Albino Luciano, por apenas 33 dias João Paulo 1º (http://virtualia.blogs.sapo.pt/28262.html).
Ao encerrar a missa inesquecível, na qual lições de moral, de ética e de política deverão ainda ser estudadas ao longo da história – "mesmo nos nossos dias, muitos estão prontos para rasgar-se as vestes diante de escâdanlos e injustiças, naturalmente cometidas por outros, mas poucos parecem disponíveis para agir sobre seu próprio coração, sua própria consciência e suas próprias intenções" –, Bento 16 foi aplaudido como um super star. Um mártir em vida que irá ele próprio retirar de seu dedo o anel de Pedro para que seja moldado a outro.
Na saída planejada com mágoa e segredo – apenas seu irmão Georg, segundo a revista italiana Panorama, teria dividido com Ratzinger as angústias e preparações para o gesto crucial, a partir de uma conversa em 17 de dezembro --, Bento 16 não deixou barato. Ele já anunciou, por meio do secretário de Estado do Vaticano, Tarcisio Bertone, que vai nomear o futuro presidente do Banco do Vaticano. Bertone, ironicamente o segundo homem na estrutura da Santa Sé, é acusado de ter feito pressão para que fosse demitido do cargo Ettore Gotti Tedeschi, pessoa de confiança do papa e membro da Opus Dei - a poderosa ordem que teve papel relevante com João Paulo 2º e continuou tendo com Joseph Ratzinger. Gotti Tedeschi, acusado de má gestão, sem maiores especificações, foi afastado em maio do ano passado.
Bento 16 teria admitido, segundo a Panorama, "talvez pela primeira vez", após ler os relatos de seus três cardeais de confiança sobre as resistências às mudanças, "ter descoberto uma face da Cúria vaticana que jamais tinha imaginado. Antes do Natal começou a pensar seriamente em sua renúncia".
Está feito, mas está em curso. Com sua saída em grande estilo único, Ratzinger vai influenciar diretamente no conclave de sua sucessão. É possível prever uma forte radicalização entre os cardeais. Os perdedores de hoje irão puxar a corda para mais conservadorismo, talvez lutando pela nomeação de um italiano afeito às intrigas tradicionais da Santa Sé. A corrente renovadora, de Ratzinger, tentará os varrer para baixo dos tapetes da Igreja, lançando o nome do novo sobre o novo -- nunca antes na história a Igreja tivera, afinal, um papa alemão. As chances de um brasileiro emplacar, com nosso jeito conciliador de sermos e estarmos, residem na síntese desse embate. Pode ser, mas diante de tanta agitação o prudente parece ser os cardeais optarem por um ou mais passos atrás. Estão grogues com a saraivada de golpes de Ratzinger, essa é a real.
Ao retirar-se para um casa da Igreja perto de Roma, já é certo que Ratzinger, pela força moral alcançada de imediato por sua renúncia, continuará sendo uma referência para a Igreja e o mundo. Uma sombra para o próximo papa. Um teólogo influente e admirado. Talvez um Papa do B, um sumo pontífice paralelo. Como Lula está para Dilma, captaram? Um gênio da política interna do Vaticano, sem dúvida. Se o Papa João Paulo 2º mudou o mundo, como mudou, Bento 16 está mudando a Igreja.
Fala, sobre o gesto papal, o teólogo suíço Hans Küng: "A decisão de Bento 16 merece grande respeito, é legítima, compreensível e também corajosa. Nunca esperei que este papa conseguisse me surpreender, algum dia, de maneira tão positiva", disse o estudioso, com quem Ratzinger teve mais de uma polêmica. O registro é da professora do Departamento de Teologia da PUC-Rio, Maria Clara Lucchetti Bingemer.
Traído por seu mordomo, Paolo Gabriele, que divulgou à mídia, no ano passado, um pesado lote de seus documentos pessoais, e após ser informado por um triunvirato de cardeais octagenários escolhidos a dedo – o espanhol Julián Herranz, 82 anos; o italiano Salvatore De Giorgi, 82 anos, e o eslovaco Jozef Tomko, 88 anos -- que a Cúria Romana resistiria firmemente às suas ordens de transparência administrativa nos negócios do Vaticano, Bento 16 começou, então, a agir como Ratzinger. Joseph Ratzinger, o cardeal que fora o braço forte de Karol Wojtila, Papa João Paulo 2º, diante dos seus pares, como chefe da Congregação para a Doutrina da Fé, possibilitando ao chefe a tranquilidade necessária na retaguarda para fazer nada menos do que derrubar o comunismo e mudar o mundo em definitivo. Uma espécie de secretário-geral da Igreja, astuto a tal ponto que, sustentando o papa polonês, fez-se o primeiro papa alemão da história. Molezinha?
Ontem, na última missa de seu pontificado com data para expirar, voltou a ser Bento 16 e deu uma aula a seus traidores. Abriu, como nunca antes, o verbo quase divino. "Jesus denunciou a hipocrisia religiosa, o comportamento que quer aparecer, a atitude que busca o aplauso e a admiração", disse ele, diante de cinco mil fiéis. "O rosto da igreja é, às vezes, deturpado pela divisão no corpo eclesial", cravou, falando abertamente na luta interna que, suspeita-se ainda hoje, pode ter matado, por envenamento, o antecessor de seu antecessor, o sorridente Albino Luciano, por apenas 33 dias João Paulo 1º (http://virtualia.blogs.sapo.pt/28262.html).
Ao encerrar a missa inesquecível, na qual lições de moral, de ética e de política deverão ainda ser estudadas ao longo da história – "mesmo nos nossos dias, muitos estão prontos para rasgar-se as vestes diante de escâdanlos e injustiças, naturalmente cometidas por outros, mas poucos parecem disponíveis para agir sobre seu próprio coração, sua própria consciência e suas próprias intenções" –, Bento 16 foi aplaudido como um super star. Um mártir em vida que irá ele próprio retirar de seu dedo o anel de Pedro para que seja moldado a outro.
Na saída planejada com mágoa e segredo – apenas seu irmão Georg, segundo a revista italiana Panorama, teria dividido com Ratzinger as angústias e preparações para o gesto crucial, a partir de uma conversa em 17 de dezembro --, Bento 16 não deixou barato. Ele já anunciou, por meio do secretário de Estado do Vaticano, Tarcisio Bertone, que vai nomear o futuro presidente do Banco do Vaticano. Bertone, ironicamente o segundo homem na estrutura da Santa Sé, é acusado de ter feito pressão para que fosse demitido do cargo Ettore Gotti Tedeschi, pessoa de confiança do papa e membro da Opus Dei - a poderosa ordem que teve papel relevante com João Paulo 2º e continuou tendo com Joseph Ratzinger. Gotti Tedeschi, acusado de má gestão, sem maiores especificações, foi afastado em maio do ano passado.
Bento 16 teria admitido, segundo a Panorama, "talvez pela primeira vez", após ler os relatos de seus três cardeais de confiança sobre as resistências às mudanças, "ter descoberto uma face da Cúria vaticana que jamais tinha imaginado. Antes do Natal começou a pensar seriamente em sua renúncia".
Está feito, mas está em curso. Com sua saída em grande estilo único, Ratzinger vai influenciar diretamente no conclave de sua sucessão. É possível prever uma forte radicalização entre os cardeais. Os perdedores de hoje irão puxar a corda para mais conservadorismo, talvez lutando pela nomeação de um italiano afeito às intrigas tradicionais da Santa Sé. A corrente renovadora, de Ratzinger, tentará os varrer para baixo dos tapetes da Igreja, lançando o nome do novo sobre o novo -- nunca antes na história a Igreja tivera, afinal, um papa alemão. As chances de um brasileiro emplacar, com nosso jeito conciliador de sermos e estarmos, residem na síntese desse embate. Pode ser, mas diante de tanta agitação o prudente parece ser os cardeais optarem por um ou mais passos atrás. Estão grogues com a saraivada de golpes de Ratzinger, essa é a real.
Ao retirar-se para um casa da Igreja perto de Roma, já é certo que Ratzinger, pela força moral alcançada de imediato por sua renúncia, continuará sendo uma referência para a Igreja e o mundo. Uma sombra para o próximo papa. Um teólogo influente e admirado. Talvez um Papa do B, um sumo pontífice paralelo. Como Lula está para Dilma, captaram? Um gênio da política interna do Vaticano, sem dúvida. Se o Papa João Paulo 2º mudou o mundo, como mudou, Bento 16 está mudando a Igreja.
- transcrito do Portal 237
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