segunda-feira, 3 de março de 2014

O julgamento das urnas e o julgamento da história

“Julgamento é sempre defeituoso, porque o que a gente julga é o passado.” (Guimarães Rosa)

Há quem adore cunhar certa expressão, para sentenciar alguém ou algum governo: “julgamento das urnas”.

Uma eleição, segundo essa linha de raciocínio, seria uma forma de julgar o candidato, pelo o que fez de certo ou errado do ponto de vista ético-moral e como “representante” do povo.

Menos. Ou mais ou menos.

Cada eleição tem metabolismo próprio, sua própria história, por mais conectada que esteja a anterior e de olhos na próxima. Entra em campo, também, a tal da “conjuntura” – o momento.

O discurso/marketing de cada candidato procura encaixar essa máxima a seu favor ou repeli-la, caso lhe seja prejudicial.

Vamos lá, a alguns exemplos, para tentarmos dirimir certas dúvidas e alimentar a boa dialética.

Wilma de Faria (PSD), candidata ao Senado em 2014, terá seus governos sob julgamento?

Na prática, sua chance de colocar-se em julgamento aconteceu em 2010, quando saiu do Governo para ser candidata a senador e foi derrotada por José Agripino (DEM) e Garibaldi Filho (PMDB).

Agora, quem parece em julgamento é Rosalba Ciarlini (DEM), governadora que a sucedeu.

Nesse contexto, é que Wilma reaparece das “cinzas”, pleiteando um “novo julgamento”, espécie de apelação da derrota que amargou em 2010.


Para Wilma, lógico que é mais cômodo concorrer ao Senado novamente, do que mais uma vez experimentar a guerra renhida das urnas na corrida à Governadoria. Seu nome é extremamente vulnerável, em face de um rosário de escândalos que permearam suas gestões.

Carlos Eduardo Alves (PDT) não conseguiu eleger Fátima Bezerra (PT) à Prefeitura do Natal em 2008. Sua própria administração enfrentou momentos de profundo desgaste.

Mas na campanha de 2012, ele foi praticamente “nomeado”, graças ao “julgamento” que a cidade fez da sucessora Micarla de Sousa (PV), avaliado até então como a pior gestora do Brasil, com quase 95% de reprovação popular.

Se Micarla tivesse obtido endosso popular, Carlos Eduardo Alves teria conseguido retornar à Prefeitura em 2014? Difícil.

Micarla transformou-se em seu principal cabo eleitoral, tamanho seu desgoverno. Carlos, então, passou a representar no coletivo e inconsciente popular, uma forma de “vingança” e não necessariamente de resgate.

Em relação à Wilma de Faria, a situação é muito parecida. Rosalba a exumou. Devolveu-a ao tablado, tamanho o desastre de sua administração.

Considerar Wilma de Faria a redenção para o falido Governo do Rio Grande do Norte, é uma clara distorção da realidade de forma deliberada ou por desconhecimento de causa.

Da mesma forma que a reeleição de Rosalba seria um exercício de estupidez coletiva.

Na prática, o julgamento das urnas é movido muito mais pelo emocional do que pela razão. É assim, a propósito, que se move o marketing político na sedução das massas.

É graças a essa inclinação humana, que de tempos em tempos caímos no conto do vigário, lero-lero de “caçador de marajá”, gente que “faz acontecer”, de governo “para todos” e outros embustes.

Quase nada real.

É sobretudo no caos que aparecem os falsos profetas, salvadores da pátria e algum Führer (líder, guia, mestre).

O Rio Grande do Norte precisa de um “gerente”. De alguém capaz, que inspire confiança e saiba dialogar sem arrogância com a sociedade e outros poderes.

No futuro teremos o definitivo julgamento da história.
 
- Transcrito do Blog de Carlos Santos

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