Representar
Gabriela depois de Sônia Braga é uma função tão ingrata quanto ser treinador da
seleção brasileira em véspera de Copa do Mundo.
Assim como no
futebol, todo brasileiro é especialista em TV e capaz de fazer a sua crítica
independentemente do que é dito na mídia.
Escalada para a
duríssima missão do "remake" da novela global de 1975, Juliana Paes
estaria, óbvio, no foco.
A moça faz o que
pode. Até subir no telhado, a cena clássica, mais adiante.
Pode fazer chover
no semiárido sertanejo, mas sempre terá um desalmado para dizer que o milagre
dos céus era Sônia Braga.
Eleita pelo criador
Jorge Amado (1912-2001) como mais Gabriela do que a sua Lolita agrestina --a
criatura do livro bate em retirada aos 15 anos--, Sônia Braga também foi
consagrada nos estudos de tropicologia de Gilberto Freyre (vide "Modos de
Homem & Modas de Mulher") como a vingança final da morenidade
brasileira.
É muita responsa,
como se diz no botequim, encarar essa história. E Juliana está mal? Não. A
equipe da novela, com Mauro Mendonça Filho na direção-geral e Walcyr Carrasco
na reescrita da obra, parece ter reduzido, levemente, a importância da
personagem no "remake".
Pior é que não tem
jeito. Estamos lá todos nós no exercício da literatura comparada. Melhor: da
gostosa comparada. Juliana é tão gostosa quanto. E isso é importante na
adaptação do livro mais safado e feminista do romance nacional. Um livro que
representa a ruptura do próprio autor com a sua escrita antes amarrada aos
ideais estéticos da URSS de Stálin.
E não é discurso de
um nostálgico. O que falta nesta versão de agora é esta safadeza e soltura.
Isso não significa peitinhos e belas cenas de sexo em HD. Falta inclusive o
desejo macho dos coronéis no Bataclan.
Por mais que
Ivete-Machadão incentive, há na dramaturgia apenas a manifesta vontade pela
transa, não a malícia, não a putaria, para sermos óbvios, do velho e safado
escriba baiano.
A postura de
Antônio Carlos Magalhães, rei do Estado por muito tempo, de Antonio Fagundes, é
porreta.
Leona Cavalli, a
Zarolha, vê lindamente o mundo pelos quatro olhos do romantismo. Seu Nacib
carece de mais sustança, comer Gabriela mais com o olhar do que na cama. Aqui
está, ressalte-se, uma apreciação de quatro capítulos inaugurais da novela. É
um julgamento precoce de uma superprodução tocada por competentes
profissionais.
Dos dois eixos
centrais da trama de Jorge Amado, a parte da disputa política e comercial está
bem-feita.
A do poder do sexo,
que é tão importante quanto, é que ainda suplica por testosterona. Os homens
precisam perder um pouco o ar de janotas, os arrumadinhos de época. Pimenta
neles.
Por mais safadeza na oralidade da macharada do bar Vesúvio. Está tudo lá no livro de 1958, mas ainda não chegou à nova Ilhéus televisiva.
Por mais safadeza na oralidade da macharada do bar Vesúvio. Está tudo lá no livro de 1958, mas ainda não chegou à nova Ilhéus televisiva.
- Xico Sá
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