terça-feira, 26 de junho de 2012

Crítica: Falta testosterona aos machos da nova versão de 'Gabriela'

Juliana Paes e Humberto Martins em cena da novela "Gabriela"
Representar Gabriela depois de Sônia Braga é uma função tão ingrata quanto ser treinador da seleção brasileira em véspera de Copa do Mundo.
Assim como no futebol, todo brasileiro é especialista em TV e capaz de fazer a sua crítica independentemente do que é dito na mídia.
Escalada para a duríssima missão do "remake" da novela global de 1975, Juliana Paes estaria, óbvio, no foco.
A moça faz o que pode. Até subir no telhado, a cena clássica, mais adiante.
Pode fazer chover no semiárido sertanejo, mas sempre terá um desalmado para dizer que o milagre dos céus era Sônia Braga.
Eleita pelo criador Jorge Amado (1912-2001) como mais Gabriela do que a sua Lolita agrestina --a criatura do livro bate em retirada aos 15 anos--, Sônia Braga também foi consagrada nos estudos de tropicologia de Gilberto Freyre (vide "Modos de Homem & Modas de Mulher") como a vingança final da morenidade brasileira.
É muita responsa, como se diz no botequim, encarar essa história. E Juliana está mal? Não. A equipe da novela, com Mauro Mendonça Filho na direção-geral e Walcyr Carrasco na reescrita da obra, parece ter reduzido, levemente, a importância da personagem no "remake".
Pior é que não tem jeito. Estamos lá todos nós no exercício da literatura comparada. Melhor: da gostosa comparada. Juliana é tão gostosa quanto. E isso é importante na adaptação do livro mais safado e feminista do romance nacional. Um livro que representa a ruptura do próprio autor com a sua escrita antes amarrada aos ideais estéticos da URSS de Stálin.
E não é discurso de um nostálgico. O que falta nesta versão de agora é esta safadeza e soltura. Isso não significa peitinhos e belas cenas de sexo em HD. Falta inclusive o desejo macho dos coronéis no Bataclan.
Por mais que Ivete-Machadão incentive, há na dramaturgia apenas a manifesta vontade pela transa, não a malícia, não a putaria, para sermos óbvios, do velho e safado escriba baiano.
A postura de Antônio Carlos Magalhães, rei do Estado por muito tempo, de Antonio Fagundes, é porreta.
Leona Cavalli, a Zarolha, vê lindamente o mundo pelos quatro olhos do romantismo. Seu Nacib carece de mais sustança, comer Gabriela mais com o olhar do que na cama. Aqui está, ressalte-se, uma apreciação de quatro capítulos inaugurais da novela. É um julgamento precoce de uma superprodução tocada por competentes profissionais.
Dos dois eixos centrais da trama de Jorge Amado, a parte da disputa política e comercial está bem-feita.
A do poder do sexo, que é tão importante quanto, é que ainda suplica por testosterona. Os homens precisam perder um pouco o ar de janotas, os arrumadinhos de época. Pimenta neles.
Por mais safadeza na oralidade da macharada do bar Vesúvio. Está tudo lá no livro de 1958, mas ainda não chegou à nova Ilhéus televisiva.

- Xico Sá

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