sábado, 2 de novembro de 2013

Dia de finados: uma mensagem de vida

Cássio Roberto dos Santos Andrade
 
A perda de um ente querido arranca da gente um pedaço precioso da alma. É uma dor profunda que provoca no coração o gosto amargo do abandono, trazendo a sensação vazia de ter que continuar o caminho, sem aquele que nos encharcou de tanto amor.

Desde os primeiros raios da humanidade há a tradição de reverenciar os mortos, seja num ritual de sofrimento, seja no festejo pelo alvorecer da vida eterna.

No Brasil, o dois de novembro é feriado nacional dedicado ao dia de finados. As diversas religiões buscam dar o destino apropriado aos que se vão, canalizando para os demais as lições da boa conduta para merecer um futuro de paz. É a oração que se revela na ação contínua de harmonizar os conflitos mundanos, buscando na transcendência da fé o conforto espiritual que serena e alimenta.

Na poesia de Jorge Luis Borges, que tanto fez desvendar os mistérios da aventura humana, aprende-se que a par dos valores religiosos e sentimentais, a morte vem nos ensinar que a vida - embora curta - não deve ser pequena.

Steve Jobs, discursando para universitários americanos naquele período em que o encontro com a morte já estava marcado, revelava uma feição leve ao confessar que a inevitabilidade do fim pode ser libertadora, pois nos deixa nus diante da realidade de não ter mais nada tão precioso a perder. É a sabedoria daquela voz interior abafada, a gritar que devemos fazer urgentemente o que o coração nos pede, antes que chegue o dia em que não haverá amanhã.

A consciência de que o tempo corre irremediavelmente para os estertores da nossa breve existência, deveria ser um alerta divino de celebração imediata da vida. É como se fosse uma mensagem premente de Deus a nos impulsionar a viver na plenitude máxima, retirando-nos da escuridão que nos faz matar nosso tempo apenas para sobreviver.

O Brasil, no dia de finados, presta as mais justas homenagens àqueles que ao completar o ciclo terreno deixaram um oceano de saudade. A espiritualidade, neste dia cinza, cumpre seu compromisso fundamental de renovar a esperança num futuro eterno, agindo como um lenitivo para quem convive com a angústia de saber-se finito.

Mas esse turbilhão de emoções só se traduzirá em compreensão se provocar a percepção de que tudo está impregnado pela impermanência. Apegar-se a qualquer situação é a plantação perfeita do sofrimento. Perde-se a beleza de experimentar a vida com o tempero ligeiro da felicidade, que se esvai como uma pluma que o vento vai levando pelo ar, na oração que Vinicius nos ensinou.

O dia de finados demonstra que vida e morte fazem parte da mesma história. Nos segredos sagrados da saga humana repousa a verdade se haverá outra oportunidade ou se o ponto que as separa é definitivamente o ponto final.
 

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