Se acontecesse no Rio, São Paulo, Minas, Paraná ou Pernambuco os respectivos governadores já estariam enfrentando multidões na porta de suas casas e a indignação federal estaria no nível de comoção internacional.
Feliz ou infelizmente, o Maranhão – como Haiti – não é aqui. Está distante, longe do afluente Sudeste, protegido pela modorra de um verão tão inclemente que torna penosa a composição de uma simples manchete expressando horror e revolta com o que acontece naquele paraíso.
Primeiro foi o cacique do clã e vice-rei do Brasil, José Sarney, afirmando que estava contida a violência nas prisões do estado governado pela filha querida, Roseana. Como a bandidagem de hoje também lê jornais e acessa a internet dos celulares mesmo atrás das grades, a violência ganhou as ruas de São Luís num claro desafio ao imortal ficcionista. Incendiaram um ônibus, uma criança morreu queimada, sua mãe e irmã estão internadas sofrendo as severas consequências das queimaduras.
A patética desculpa do pai ex-presidente inspirou a discípula ex-presidencíável, que na quinta-feira (9/1), ao lado de um ministro da Justiça envergonhado com aquela despudorada exibição de cinismo, teve o desplante de afirmar que a violência do Estado resulta do fato que o Maranhão “está mais rico”.
O grande eleitor
Acrescente-se que a viagem do ministro – uma das poucas ações federais nessa catástrofe humanitária – decorreu de uma veemente denúncia da ONU no dia anterior, exigindo do governo brasileiro ações imediatas para a restauração da ordem e o respeito aos direitos humanos no Complexo Penitenciário de Pedrinhas, na capital do Maranhão. A ação da ONU resultou da exibição mundial de um vídeo feito pelos próprios detentos mostrando a decapitação de três desafetos. Uma das vítimas, segundo o seu pai (que examinou o corpo no IML) recebeu pelo menos 180 facadas.
A charmosa Roseana se disse surpresa e chocada com o que se passa no seu quintal, porém vem sendo advertida desde 2008 – há cinco anos! – pelo Conselho Nacional de Justiça e outros entes oficiais e ONGs para os perigos da irrupção do vulcão.
Desta vez a presidente Dilma Rousseff não parece perplexa como aconteceu com a agitação junina. Na sexta-feira (10), tuitou que está alerta. Tão alerta que determinou à brava ministra-chefe da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, que tomasse cuidado com suas indignadas falas e ações. Qualquer descuido – leia-se desagrado aos Sarney – poderá ser fatal. Estamos na temporada de reformas ministeriais, logo teremos eleições e Sarney é o grande eleitor, dono do PMDB, o mais importante aliado do governo.
Mal banal
O respeito aos direitos humanos já foi bandeira de grandes movimentações: no inexpugnável regime militar chegou a derrubar generais de quatro estrelas e até um ministro da Guerra. Hoje virou moeda de troca: você me apoia e eu esqueço que a guilhotina está funcionando dentro da Bastilha maranhense: Pedrinhas.
Neste Brasil entediado e satisfeito, essas Bastilhas não caem. A riqueza é tanta e tão bem distribuída que o terror e a violência já não contam. Nem produzem manchetes.
Feliz ou infelizmente, o Maranhão – como Haiti – não é aqui. Está distante, longe do afluente Sudeste, protegido pela modorra de um verão tão inclemente que torna penosa a composição de uma simples manchete expressando horror e revolta com o que acontece naquele paraíso.
Primeiro foi o cacique do clã e vice-rei do Brasil, José Sarney, afirmando que estava contida a violência nas prisões do estado governado pela filha querida, Roseana. Como a bandidagem de hoje também lê jornais e acessa a internet dos celulares mesmo atrás das grades, a violência ganhou as ruas de São Luís num claro desafio ao imortal ficcionista. Incendiaram um ônibus, uma criança morreu queimada, sua mãe e irmã estão internadas sofrendo as severas consequências das queimaduras.
A patética desculpa do pai ex-presidente inspirou a discípula ex-presidencíável, que na quinta-feira (9/1), ao lado de um ministro da Justiça envergonhado com aquela despudorada exibição de cinismo, teve o desplante de afirmar que a violência do Estado resulta do fato que o Maranhão “está mais rico”.
O grande eleitor
Acrescente-se que a viagem do ministro – uma das poucas ações federais nessa catástrofe humanitária – decorreu de uma veemente denúncia da ONU no dia anterior, exigindo do governo brasileiro ações imediatas para a restauração da ordem e o respeito aos direitos humanos no Complexo Penitenciário de Pedrinhas, na capital do Maranhão. A ação da ONU resultou da exibição mundial de um vídeo feito pelos próprios detentos mostrando a decapitação de três desafetos. Uma das vítimas, segundo o seu pai (que examinou o corpo no IML) recebeu pelo menos 180 facadas.
A charmosa Roseana se disse surpresa e chocada com o que se passa no seu quintal, porém vem sendo advertida desde 2008 – há cinco anos! – pelo Conselho Nacional de Justiça e outros entes oficiais e ONGs para os perigos da irrupção do vulcão.
Desta vez a presidente Dilma Rousseff não parece perplexa como aconteceu com a agitação junina. Na sexta-feira (10), tuitou que está alerta. Tão alerta que determinou à brava ministra-chefe da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, que tomasse cuidado com suas indignadas falas e ações. Qualquer descuido – leia-se desagrado aos Sarney – poderá ser fatal. Estamos na temporada de reformas ministeriais, logo teremos eleições e Sarney é o grande eleitor, dono do PMDB, o mais importante aliado do governo.
Mal banal
O respeito aos direitos humanos já foi bandeira de grandes movimentações: no inexpugnável regime militar chegou a derrubar generais de quatro estrelas e até um ministro da Guerra. Hoje virou moeda de troca: você me apoia e eu esqueço que a guilhotina está funcionando dentro da Bastilha maranhense: Pedrinhas.
Neste Brasil entediado e satisfeito, essas Bastilhas não caem. A riqueza é tanta e tão bem distribuída que o terror e a violência já não contam. Nem produzem manchetes.
- Texto escrito por Alberto Dines e transcrito do site Observatório da Imprensa
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