A região Nordeste possui uma área 1.561.177 km²,
correspondente a 18,27% do território brasileiro e produz aproximadamente 16%
do PIB brasileiro e tem uma população de cerca de oito milhões de pessoas. Esta
região também comporta a maioria da população pobre do Brasil, haja vista cerca
de 962.857 km² de seu território está situado no batizado polígono das secas.
Historicamente o Brasil não conta com politicas públicas voltadas
para a otimização dos inúmeros recursos naturais existentes na Região Nordeste
como instrumento de criação de alternativas econômicas e sociais no sentido de
minimizar os efeitos da irregularidade de chuvas na vida do homem nordestino.
Essa situação de descaso faz com que a sobrevivência desse contingente de
pessoas esteja a mercê de políticas oficiais de socorro, paliativas mesmo.
Parte deste socorro vem através do fornecimento de água
potável (apenas para que a sede não leve a um genocídio), através de carros
pipas; de incentivo ao êxodo rural, seja do recurso à emigração para outras
regiões ou para as áreas urbanas do próprio nordeste; campanhas midiáticas de
arrecadação de alimentos, Além de muitos outros meios utilizados pelos
governantes e as elites brasileiras para desincumbirem suas consciências da
responsabilidade efetiva que tem para com esta situação lastimosa e evitável que
vive o povo nordestino.
Além desses paliativos, mais voltado a manter o nordestino
vivo, o Ministério da Integração propaga com grande euforia que pretende ajudar
o pequeno produtor rural e anuncia a entrada em cena da bolsa estiagem,
garantia safra, leilão de milho (que tornou-se uma acanhada ação de governo sob
a coordenação da CONAB), recuperação de poços (que não são recuperados),
operação carro-pipa ao invés de um amplo programa de perfuração de poços (água
permanente), socorro e assistência (qual?) e a linha de crédito emergencial
disponibilizadas e operacionalizadas exclusivamente pelo Banco do Nordeste, que
sem estrutura de pessoal e tecnologia adequada para dar agilidade ao
atendimento aos clientes, provocam retardamento na contratação dos recursos
destinados a viabilizar o acesso aos meios de produção e de sobrevivência das
famílias do campo, cujo prazo para contratação, conforme Resolução n°
4.077-CNN, vai até 30 de dezembro de 2012.
Os efeitos desta morosidade,
apatia e descaso para com a saga nordestina já podem ser vistos a olhos nus:
plantações que não sobreviveram ao calor e a falta de chuvas, os animais
morrendo por falta de pasto e água, a burocracia emperrando o acesso ao
crédito... O bolso e o estomago do nordestino começam a bradar por soluções
mais rápidas e viáveis. Num mundo globalizado, com tecnologia a mão, não se concebe
mais um governo que não busca a satisfação efetiva da necessidade de seu povo.
Para a classe politica pode até
parecer desencargo de consciência demonstrar através de planilhas, elaboradas
em salas refrigeradas, que o governo busca de forma constante retirar o
nordestino do grande fosso social e econômico para o qual o mesmo foi empurrado
ao longo de séculos. Estas planilhas sempre mostram valores ‘transferidos’ (bolsa
família, bolsa gás...) para o nordeste como forma de promoção do bem estar
social e de fixação do homem no campo, numa demonstração clara do teor político
e eleitoreiro que norteia este tipo de transferência.
O que impede que os governos
(federal, estaduais e municipais) invistam na ampliação da agricultura
irrigada? Segundo estudos, a agricultura irrigada é a que mais gera emprego,
por real de investimento aplicado. A viabilização da produção de alimentos com
redução de riscos, gerando empregos e aumento de renda para o setor rural, faz
da irrigação uma alternativa técnica, que deveria ter a sua utilização
fomentada de forma racional para permitir o desenvolvimento socioeconômico de
regiões brasileiras pouco favorecidas.
É importante lembrar que a população rural
que sobrevive da agricultura e pecuária é a que mais sofre com os efeitos da
seca, além das perdas mensuráveis, se instala as perdas não-mensuráveis,
composta pelo desânimo, impotência e a baixa auto-estima da população flagelada.
Será que as autoridades tem capacidade de compreender o sentimento dessa
população? As políticas públicas destinadas a mitigar os efeitos da seca e os
desníveis de exclusão social no nordeste devem priorizar, de imediato, mudanças
nos padrões de acesso aos serviços essenciais e aos ativos produtivos para ter
uma vida com dignidade, nessa perspectiva, com ações estruturantes e
duradouras, como a exploração de poços artesianos ou profundos, dessalinizadores,
medidores de tarifa verde, amplo programa de irrigação em consórcio com a
exploração da apicultura, aproveitamento dos espelhos d’água para piscicultura,
etc.
- Texto
originalmente escrito pelo economista Antonio de Paula Batista e alterado pela
titular do Blog, após permissão concedida pelo autor do texto.
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