Tumulto e protestos tomaram a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados nesta semana. Dificilmente poderia ser outra a situação, com o pastor Marco Feliciano (PSC-SP) na presidência de debates sobre temas como a homofobia, o racismo e a violência policial.
Procura-se evitar, nesta Folha, a expressão de julgamentos que tendam a personalizar o debate político. É inegável, todavia, que o nome de Marco Feliciano se comprova inadequado para a função.
O deputado se notabilizou por afirmar que "africanos descendem de ancestral amaldiçoado por Noé", o que seria "um fato". Considera também que, depois da união civil entre homossexuais, virá a extinção das palavras "pai" e "mãe".
Ao tomar posse na comissão, leu carta em que pede "humildes desculpas" pelos disparates que pronunciou. Solicitou um "voto de confiança" da opinião pública e de seus colegas.
A questão não se resume, entretanto, a um voto de confiança pessoal. Confiança, em política, é algo que se constrói, não um favor de conveniência ao interessado.
Não se trata, tampouco, de desejar unanimidade nos trabalhos parlamentares. Sem dúvida, muitos cidadãos brasileiros e parte expressiva de seus representantes são contra a união civil homossexual.
Política, entretanto, implica diálogo e mediação. As declarações de Marco Feliciano não se pautam pela civilidade, nem mesmo por um mínimo cabedal de instrução.
Alguém que propugna a crença na "maldição de Cam", num país de população mestiça, coloca-se num plano muito abaixo da "opinião divergente". Em trânsito entre o bizarro e o sectário, Marco Feliciano não terá condições de levar adiante os trabalhos da comissão --que inevitavelmente se converte em palco de protestos e insultos.
Não são apenas os direitos das minorias que perdem. O próprio diálogo e a política se inviabilizam.
Ou melhor, a política no sentido mais elevado. Não a dos guichês, dos favores e das barganhas, que levou o inexpressivo PSC a abiscoitar a presidência da comissão.
Nesse jogo, vale tudo. Um cargo supostamente desimportante se reserva a uma legenda menor da base de apoio ao governo federal. Mesmo que a política do Planalto, no assunto em tela, pareça tão avessa aos despautérios de Feliciano.
É a irracionalidade política a serviço da intolerância; a fisiologia a serviço do fundamentalismo.
Procura-se evitar, nesta Folha, a expressão de julgamentos que tendam a personalizar o debate político. É inegável, todavia, que o nome de Marco Feliciano se comprova inadequado para a função.
O deputado se notabilizou por afirmar que "africanos descendem de ancestral amaldiçoado por Noé", o que seria "um fato". Considera também que, depois da união civil entre homossexuais, virá a extinção das palavras "pai" e "mãe".
Ao tomar posse na comissão, leu carta em que pede "humildes desculpas" pelos disparates que pronunciou. Solicitou um "voto de confiança" da opinião pública e de seus colegas.
A questão não se resume, entretanto, a um voto de confiança pessoal. Confiança, em política, é algo que se constrói, não um favor de conveniência ao interessado.
Não se trata, tampouco, de desejar unanimidade nos trabalhos parlamentares. Sem dúvida, muitos cidadãos brasileiros e parte expressiva de seus representantes são contra a união civil homossexual.
Política, entretanto, implica diálogo e mediação. As declarações de Marco Feliciano não se pautam pela civilidade, nem mesmo por um mínimo cabedal de instrução.
Alguém que propugna a crença na "maldição de Cam", num país de população mestiça, coloca-se num plano muito abaixo da "opinião divergente". Em trânsito entre o bizarro e o sectário, Marco Feliciano não terá condições de levar adiante os trabalhos da comissão --que inevitavelmente se converte em palco de protestos e insultos.
Não são apenas os direitos das minorias que perdem. O próprio diálogo e a política se inviabilizam.
Ou melhor, a política no sentido mais elevado. Não a dos guichês, dos favores e das barganhas, que levou o inexpressivo PSC a abiscoitar a presidência da comissão.
Nesse jogo, vale tudo. Um cargo supostamente desimportante se reserva a uma legenda menor da base de apoio ao governo federal. Mesmo que a política do Planalto, no assunto em tela, pareça tão avessa aos despautérios de Feliciano.
É a irracionalidade política a serviço da intolerância; a fisiologia a serviço do fundamentalismo.
- Transcrito da Folha de São Paulo
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