quinta-feira, 14 de março de 2013

Hoje, Dia da Poesia: Livro Perdido



Eu tinha um livro irmão desses cadernos

Que tenho hoje espalhados na gaveta,

Era escrito por mim com tinta preta

Tinha sonetos amorosos, ternos ...


Branco, continha os madrigais eternos

Que nos lembra a saudade de um poeta

Nele brilhava, lânguida, secreta

Toda minh'alma em gelidez de invernos ...


Um dia o livro me caiu dos dedos ...

Arrastando consigo os meus segredos

Foi-se esse raio do meu morto brilho ...


Fui procurá-lo loucamente aflito

e pela estrada ressou meu grito

Lembrando um pai que procurasse o filho ...


(Natal, 22 de novembro de 1908)
Isabel



Uma Isabel morreu no mundo

Tinha pai e mãe, irmãs e sobrinhos, aquele

mundo de primos no mundo.

Avós enterrados, bisavós hoje trepidantes em cernes

duros de árvores agigantadas.

Ascendentes outros na nervura de asas e barbatanas de peixe.

Isabel hoje estava cansada.


Remontava das suas origens a dias

muito anteriores aos dias de Tebas,

Viveu de fresco os poemas de Homero,

A guerra de Tróia

O passado de Sócrates

E, caída Cartago, soldados ruivos assalariados mortos.


Não soube nada de sua crônica.

Era uma mulher, vestia saia,

os cabelos compridos

E se alimentava de pão, rapadura e mel.


Isabel tinha linhas nas mãos,

Uma sorte que estava escrita, diferente sem dúvida

das outras sortes.

O destino de Isabel, o destino da vida,

como os outros que carregam a morte.

Eu nunca vi Isabel.
 
 
João Lins Caldas

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