Clóvis Rossi
É compreensível que a massa de fiéis reunida na praça de São Pedro, durante a cerimônia fúnebre de João Paulo 2º, decretasse aos gritos: "Santo subito".
Afinal, o pontificado de João Paulo 2º durara 28 anos, tempo mais que suficiente para exibir ao mundo suas qualidades (defeitos também, mas, nessas horas, ninguém pensa em defeitos).
É um exagero, no entanto, a mídia, inclusive a do Vaticano, transformar o noticiário em torno do novo papa em culto à personalidade de Jorge Mario Bergoglio, como reproduzisse para ele o grito de "Santo subito" de oito anos atrás.
Cada detalhe de sua biografia e cada vírgula de suas palavras são apresentados em "odor de santidade", a fragrância que a tradição católica diz que emana dos santos.
Talvez o exagero se deva ao fato de que Bergoglio era um virtual desconhecido para o mundo, o que leva o jornalismo a procurar, em cada pequeno gesto e cada pequena fala, o rosto do novo pontificado.
Está sendo inútil até agora, a menos que se considere que a escolha do nome Francisco seja uma declaração de intenções, a de querer, como disse ontem, "uma igreja pobre, para os pobres". Não conheço um único religioso (ou político) que tenha defendido uma igreja (ou partido ou governo) para os ricos.
Entendo em todo o caso a carência de definições sobre a vasta e complexa agenda da igreja, que, segundo dom Cláudio Hummes, "precisa de uma reforma em todas as suas estruturas".
O papa explicou que "a igreja, embora sendo certamente também uma instituição humana, histórica, com tudo o que isso comporta, não tem uma natureza política, mas essencialmente espiritual".
Os mortais comuns aprendemos a lidar com a política, gostando ou não dela, mas o espiritual é para poucos escolhidos.
O problema é que temas essenciais da agenda da igreja, como o escândalo de pedofilia ou a polêmica em torno do casamento entre pessoas do mesmo sexo, são essencialmente humanos.
O papa precisará mesmo do odor de santidade para levar a cabo o que dom Cláudio definiu como "obra gigantesca" de renovação da igreja. Precisará também da coragem que lhe faltou durante a ditadura militar argentina, como depõe o prêmio Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel: "Não considero que Jorge Bergoglio tenha sido cúmplice da ditadura, mas creio que lhe faltou coragem para acompanhar nossa luta pelos direitos humanos nos momentos mais difíceis".
O passado, portanto, não permite sentir odor de santidade no novo papa, até porque santos se revelam exatamente nos momentos difíceis. No caso da Argentina, durante a ditadura, o que estava em jogo era condenar a barbárie, não calar-se.
Afinal, o pontificado de João Paulo 2º durara 28 anos, tempo mais que suficiente para exibir ao mundo suas qualidades (defeitos também, mas, nessas horas, ninguém pensa em defeitos).
É um exagero, no entanto, a mídia, inclusive a do Vaticano, transformar o noticiário em torno do novo papa em culto à personalidade de Jorge Mario Bergoglio, como reproduzisse para ele o grito de "Santo subito" de oito anos atrás.
Cada detalhe de sua biografia e cada vírgula de suas palavras são apresentados em "odor de santidade", a fragrância que a tradição católica diz que emana dos santos.
Talvez o exagero se deva ao fato de que Bergoglio era um virtual desconhecido para o mundo, o que leva o jornalismo a procurar, em cada pequeno gesto e cada pequena fala, o rosto do novo pontificado.
Está sendo inútil até agora, a menos que se considere que a escolha do nome Francisco seja uma declaração de intenções, a de querer, como disse ontem, "uma igreja pobre, para os pobres". Não conheço um único religioso (ou político) que tenha defendido uma igreja (ou partido ou governo) para os ricos.
Entendo em todo o caso a carência de definições sobre a vasta e complexa agenda da igreja, que, segundo dom Cláudio Hummes, "precisa de uma reforma em todas as suas estruturas".
O papa explicou que "a igreja, embora sendo certamente também uma instituição humana, histórica, com tudo o que isso comporta, não tem uma natureza política, mas essencialmente espiritual".
Os mortais comuns aprendemos a lidar com a política, gostando ou não dela, mas o espiritual é para poucos escolhidos.
O problema é que temas essenciais da agenda da igreja, como o escândalo de pedofilia ou a polêmica em torno do casamento entre pessoas do mesmo sexo, são essencialmente humanos.
O papa precisará mesmo do odor de santidade para levar a cabo o que dom Cláudio definiu como "obra gigantesca" de renovação da igreja. Precisará também da coragem que lhe faltou durante a ditadura militar argentina, como depõe o prêmio Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel: "Não considero que Jorge Bergoglio tenha sido cúmplice da ditadura, mas creio que lhe faltou coragem para acompanhar nossa luta pelos direitos humanos nos momentos mais difíceis".
O passado, portanto, não permite sentir odor de santidade no novo papa, até porque santos se revelam exatamente nos momentos difíceis. No caso da Argentina, durante a ditadura, o que estava em jogo era condenar a barbárie, não calar-se.
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