Josias de Souza
Colunista da Folha de São Paulo
Decretada em assembleia da noite de 31 de janeiro, a greve da Polícia
Militar da Bahia produziu estatísticas macabras. Entre 1o de
fevereiro, data em que os PMs cruzaram os braços, e a manhã deste sábado (11),
dia em que decidiram voltar ao trabalho, foram assassinadas em Salvador 167
pessoas.
Os repórteres Rogério Pagnan, Fábio Guibu e Graciliano Rocha deram-se ao
trabalho de mergulhar nos ‘boletins de ocorrência’ do Departamento de
Homicídios da Polícia Civil baiana. Manusearam documentos lavrados entre 31 de
janeiro e 9 de fevereiro. O resultado da análise foi levado às páginas da
Folha.
No período pesquisado, os cadáveres eram contados em 109. Excluindo-se
seis pessoas passadas na faca, duas linchadas e uma carbonizada, chega-se ao
numero de assassinados a bala: 100. A maioria dos corpos, 59, desceu à cova com
perfurações de tiro na cabeça. Coisa típica de execução.
Vale a pena ouvir o diretor do Departamento de Homicídios da Bahia:
“Quando alguém atira na cabeça é porque conseguiu chegar perto da vítima. Não é
tiro para se defender ou apenas ferir outra pessoa. É para matar.”
Dos 109 homicídios cobertos pela pesquisa dos repórteres, 99 ocorrem nos
subúrbios, nas favelas e nos bairros pobres de Salvador. No alvorecer da greve,
o governador Jaques Wagner creditara parte das mortes a grevistas interessados
em espalhar o pânico. Dissera que, havendo provas de execução, a suspeita
viraria denúncia formal.
Torça-se para que o encerramento da greve não elimine a curiosidade do
governador. Antes desejável, a elucidação dos assassinatos tornou-se algo
imperioso. O silêncio da banda boa da PM da Bahia –supondo-se que ela exista— é
constrangedor e apavorante.
Constrange porque passa ao contribuinte a impressão de que o dinheiro que
lhe tiram da carteira financia o crime. Apavora porque não se vislumbra, por
ora, a mais remota perspectiva de punição dos criminosos. Ou muda-se o quadro
ou nada do que as autoridades baianas disserem merecerá respeito.
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