JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
A popularidade de
Dilma Rousseff vai subindo: chegou a 64% de avaliação positiva. Praticamente
dois em cada três brasileiros acham seu governo bom ou ótimo. Dilma só perde
para Lula no auge. Em um mês, o saldo de aprovação presidencial ("ótimo +
bom" menos "ruim + péssimo") subiu 11 pontos porcentuais: de 48
pontos no Ibope de março para 59 pontos no Datafolha de abril. Vai ter gente
xingando a opinião pública. De novo.
A aceleração da
popularidade presidencial sugere que o corte dos juros no atacado e no varejo
foi um gol aos olhos do público. Era previsível. Juros altos são malvistos pela
população. Ao derrubar as taxas do Banco Central e obrigar os bancos federais a
fazerem o mesmo, Dilma ampliou o crédito e facilitou a vida do consumidor. De
quebra, como o Banco do Brasil está descobrindo, cai a inadimplência.
É um paradoxo
aparente: enquanto a economia está em expansão, quanto mais gente toma
empréstimo ou faz crediário, menor o risco de quem empresta o dinheiro. Os
caloteiros se diluem na massa de bons pagadores. Pobres tendem a pagar suas
dívidas mais em dia do que ricos, logo, quanto mais gente tomando emprestado,
melhor para os bancos. Em tese.
Na prática, depende
da posição relativa de cada banco no mercado de crédito. Para não ver sua fatia
murchar, os bancos privados precisam correr atrás do consumidor, mas não é
fácil recuperar o terreno perdido. Quem saiu na frente levou vantagem, capturou
a clientela.
No Brasil
pré-consumo de massa, os bancos se acostumaram à alta rentabilidade de poucos
empréstimos. Agora, com os juros menores do BB e da CEF, os bancos precisam
compensar a perda de margem de lucro com ganhos de escala. Nem todos vão
conseguir. A gritaria vai piorar.
Nessas horas
desponta o discurso de autoridade. Especialistas esgrimem argumentos técnicos e
jargão incompreensíveis ao senso comum. Agouram o crescimento e alertam para a
catástrofe na esquina. Embora o retrospecto não lhes favoreça, podem ter razão.
Ou pode ser que estejam apenas defendendo o status quo.
Não é incomum. No
Brasil como nos EUA, toda vez que as coisas não saem como quer a minoria, a
culpa é da maioria ignorante e manipulada. Nem se imagina a possibilidade de a
opinião pública agir racional e pragmaticamente em prol de seus próprios e
egoísticos interesses.
Por essa versão, o
republicano George W. Bush foi um dos presidentes mais impopulares da história
norte-americana simplesmente porque a mídia liberal manipulou a verdade (e não
porque ele foi incompetente).
O democrata John
Kerry tomou uma lavada eleitoral do mesmo Bush por causa da propaganda
mentirosa dos republicanos (e não porque ele foi inapto). É reconfortante.
Exime a autocrítica. Dá férias ao superego.
No Brasil, quando
Lula perdeu três eleições presidenciais seguidas, foi por culpa da mídia, que
manipulou a massa de manobra que, afinal de contas, deve ser o eleitorado.
Quando o petista ganhou três eleições presidenciais seguidas, foi culpa do
mesmo eleitor manobrável. A minoria muda de lado, suas desculpas não.
No último meio
século, estudo após estudo tem chegado à mesma constatação: o eleitor é mais
esperto do que seu estereótipo nos faz acreditar.
Os eleitores votam
de acordo com sua percepção dos méritos e do passado dos candidatos. O eleitor
identifica diferenças nas propostas dos candidatos e vota nas de que gosta
mais. Apesar dos seus limites de tempo e conhecimento, os eleitores encontram
guias para votar de acordo com seus interesses. São conclusões das ciências
sociais, calçadas em pesquisas de opinião.
Nenhum comentário:
Postar um comentário