Xico Sá
Vejo aqui,
em reportagem de Isabela Barros para o UOL,
respeitáveis especialistas, gente da USP etc, tratando da dificuldade que o
macho tem para terminar as relações.
É isso mesmo. Homem é frouxo, só usa vírgula, no máximo um ponto e
virgula; jamais um ponto final.
Sim, o amor acaba, como sentenciou a mais bela das crônicas de
Paulo Mendes Campos: “Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova,
depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos
parques de ouro onde começou a pulsar…”
Acaba, mas só as mulheres têm a coragem de pingar o ponto da
caneta-tinteiro do amor. E pronto. Às vezes com três exclamações, como nas
manchetes sangrentas de antigamente.
Sem reticências…
Mesmo, em algumas ocasiões, contra a vontade. Sábias, sabem que não
faz sentido prorrogação, os pênaltis, deixar o destino decidir na morte
súbita.
O homem até cria motivos a mais para que a mulher diga basta, chega, é
o fim!!!
O macho pode até sair para comprar cigarro na esquina e nunca mais
voltar. E sair por ai dando baforadas aflitas no king-size do abandono, no
Continental sem filtro da covardia e do desamor.
Mulher se acaba, mas diz na lata, sem metáforas.
Melhor mesmo para os dois lados, é que haja o maior barraco. Um
quebra-quebra miserável, celular contra a parede, controle remoto no teto,
óculos na maré, acusações mútuas, o diabo-a-quatro.
O amor, se é amor, não se acaba de forma civilizada.
Nem no Crato…nem na Suécia.
Se ama de verdade, nem o mais frio dos esquimós consegue escrever o
“the end” sem uma quebradeira monstruosa.
Fim de amor sem baixarias é o atestado, com reconhecimento de firma e
carimbo do cartório, de que o amor ali não mais estava.
O mais frio, o mais “cool” dos ingleses estrebucha e fura o disco dos
Smiths, I Am Human, sim, demasiadamente humano esse barraco sem fim.
O que não pode é sair por ai assobiando, camisa aberta, relax,
chutando as tampinhas da indiferença para dentro dos bueiros das calçadas e do
tempo.
O fim do amor exige uma viuvez, um luto, não pode simplesmente pular o
muro do reino da Carençolândia para exilar-se, com mala e cuia, com a primeira
criatura ou com o primeiro traste que aparece pela frente.
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