As escutas telefônicas obtidas com autorização da Justiça, que provam o envolvimento de PMs do Batalhão de Duque de Caxias (15º BPM) com traficantes de 13 favelas da cidade, na Baixada Fluminense, revelam que um dos 63 policiais presos durante a operação Purificação, desencadeada na última terça-feira (4), justificou o pedido de propina alegando que queria apenas poder “ir para casa comer aquele frango”.
No dia 5 de maio, o terceiro sargento da PM Emerson Vagner Costa Sousa fala com o traficante identificado como Léo do Centenário e questiona o atraso de duas semanas no pagamento da propina, que chama de “sintonia”. O policial cita o valor do pagamento, R$ 2.000, que chama de “dois barãozinho”, e faz uma ameaça, caso o valor não fosse pago: “Nós vamos fazer o nosso trabalho”.
O sargento Vagner diz então que vai aguardar uma posição dos traficantes. Em outra ligação, registrada às 19h07, ele cobra Léo do Centenário, que diz que o valor do “arrego” iria diminuir porque o movimento estava fraco. O PM então rebate a versão do traficante e faz uma análise do tráfico de drogas na comunidade.
— Fica um pouco difícil, mas não é impossível, mano. Tua firma tá tranquilona, a firma é rica, tá tranquila, tá trabalhando na tranquilidade. Teus preços tão tudo na pista, os viciados tão subindo e descendo, tá ficando bom pra todo mundo e só não tá ficando bom pra nós, mano, entendeu? Então é só você desenrolar essa parada aí. Não vai fazer nenhum rombo na tua caixa, teu caixa vai ficar tranquilão, entendeu? Isso aí basicamente é só uma compreensão que vocês tão mandando pra poder ficar tranquilo pra todo mundo e nós ir para casa comer aquele frango.
Na tentativa de convencer o traficante a pagar a propina atrasada, o sargento lembra que o valor do “arrego” já foi mais alto do que o acordado atualmente.
As investigações sobre o envolvimento de PMs do 15º BPM com traficantes de Duque de Caxias, todos ligados à maior facção criminosa do Estado, começaram após a Subsecretaria de Inteligência ter detectado um aumento da criminalidade na região. A partir de então, a Polícia Federal foi acionada e a investigação dividida: a PF ficou responsável pelos traficantes e a Coordenadoria de Inteligência da PM, pelos militares. Ao todo, 65 mandados de prisão contra PMs e 18 contra traficantes foram decretados pela Justiça.
Até a última sexta-feira (7), de acordo com a Secretaria de Segurança Pública, 63 PMs haviam sido presos, dos quais dois em flagrante. Outros quatro eram considerados foragidos. Com relação aos traficantes, 11 mandados foram cumpridos, mas quatro deles já estavam presos por outros crimes.
A operação contou com a participação de quase mil policiais. De acordo com o comandante-geral da PM, coronel Erir da Costa Filho, todos os policiais militares serão expulsos da corporação no prazo máximo de 30 dias.
- Transcrito do R7
Nenhum comentário:
Postar um comentário