sábado, 9 de abril de 2011

O caso Micarla

Existem governos que parecem já surgir predestinados a se tornarem objeto de investigação dos cientistas políticos. Os oito anos de governo Lula com certeza preencherão ainda muitas e muitas páginas de teses de doutorado em pós-graduações Brasil a fora.
O fato de Lula ter terminado seu governo com índices de aprovação recordes é apenas um elemento a mais que se mistura ao massacre midiático do mensalão e o seu súbito esquecimento por parte do eleitor, ao impacto de sua mitologia pessoal na consciência das massas brasileiras e a sua habilidade na presidência, de atuar como apaziguador das contradições de classe, acenando com uma mão para os miseráveis e com a outra para os banqueiros. 
Curioso é que diante de outro caso de governo que tem índices extremos (só que dessa vez para baixo), não sentimos muita necessidade de transformá-lo em objeto de estudo acadêmico. Se a explicação para o sucesso de Lula exige algum esforço teórico para ser devidamente absorvido, a explicação para o seu oposto diametral, o fracasso avassalador da prefeita de Natal (Micarla de Souza) parece conter explicações evidentes.

Os piedosos podem pensar em algum tipo de complô para isolar a prefeita e destruir seu governo. Mas essa explicação parece cada vez mais um tipo ineficaz de concessão dada a uma gestão que parece já ter acabado. Os mais realistas sabem que o mal que acometeu a administração Micarla transita entre a fragilidade administrativa e a incompetência política. Dois ingredientes simples de se identificar e que fazem um estrago profundo em qualquer governo.

Mesmo para analistas políticos amadores como eu, fica claro que a trajetória política de Micarla, que em sete anos deixou de ser apenas um rosto no jornal da hora do almoço e chegou ao palácio Felipe Camarão, após vencer três eleições seguidas (vice-prefeita, deputada estadual e prefeita), serviu muito bem aos interesses de dois grandes players da política potiguar.

José Agripino e Garibaldi Alves ganharam muito com a ascensão de Micarla. A derrota da ex-governadora Wilma de Faria para o senado, foi um acontecimento que se deu em dois rounds muito bem articulados (2008/2010). Micarla foi o resíduo político desse processo de desconstrução da liderança de Wilma em Natal e do seu posterior isolamento e enfraquecimento no estado inteiro. 

Como o resíduo nuclear que sai da usina de Fukushima, no Japão, colapsada pelo tsunami do último dia 11, o resto de governo Micarla é um grande risco para Natal. Quando um gestor perde suas ilusões eleitorais pode fragilizar qualquer tipo de compromisso com a cidade, o estado ou o país que gerencia. Os últimos momentos do governo Micarla podem nos oferecer o maravilhoso ou o terrível. Podemos nos assombrar com alguma sorte de milagre político (cada vez mais improvável) que leve a prefeita a cair de pé nas eleições de 2012, ou contemplar apavorados, cortados pelo tedio mortal dos que contemplam a previsibilidade dos fatos, a definitiva entrega da cidade ao caos político, administrativo e financeiro.

É esperar para ver, até que a história defina seu curso.


- Texto de Pablo Capistrano

Nenhum comentário:

Postar um comentário