Vicente Serejo
O Rio Grande do
Norte já chegou a um ponto tal, no exercício do poder como vício, Senhor
Redator, que não precisa mais de oligarquias para exercer o velho estilo
oligárquico. Entranhou-se de tal maneira no sentimento e na prática de nossos
políticos os traços do mandonismo de grupos que ficou impossível acreditar numa
mudança saudável. O marketing, essa bruxaria a serviço dos poderosos, fez dos
filhos a falsa renovação como se não fossem os próprios símbolos do continuísmo
e da dominação.
Convergentes no mesmo argumento – a vocação familiar ungida pelo voto – olham a política não como uma reunião de pessoas com espírito público e liderança, mas uma herança a ser repassada como se fosse um formal de partilha. Não importa se despejam jovens sem a vocação de servir ao bem estar individual e coletivo da sociedade. O mandato passa a ser um status reluzente na grande vitrine social, que, se não é essencial por seu valor econômico, é a consagração que não exige sequer uma profissão.
Não se pode negar uma qualidade na juventude de hoje, quase sempre com nível superior e uma razoável inclinação para a prosperidade. Mas, os jovens chegam ao parlamento sem qualquer formação intelectual que lhes garanta o humanismo sólido que a vida pública exige. Não é que devam prescindir, por exemplo, da necessidade de um bom automóvel, veloz e robusto, com o qual possam percorrer as distâncias que ligam suas bases, desde que não se transforme numa marca de poder social e político.
De certo modo, Senhor Redator, ficou até feio não deslizar na cidade e no campo a bordo de um potente Land Rover de vidros escuros, sem qualquer transparência, mas que são identificados de longe tal a força do ícone: ‘É ele que chega’, todos notam. Mesmo que venha sem expor seu rosto, protegido na sua caverna negra que anda e corre. Ora, não seria justo chegar como uma pessoa comum, vulgar e silvestre. É preciso diferenciar-se da sociedade que usa automóveis simples, desses que todos usam.
A política deixou de ser a grande escola formadora de líderes e estadistas, estes bem mais raros, para ser agora um território de habilidosos e sabidos. Jovens destituídos de pudor, descomprometidos com as lutas sociais. Antes era fácil dividi-los entre progressistas e conservadores, mas todos iam além da esfera ideológica. Eram conquistadores de novos mundos, realizadores de um progresso material e social, condutores do seu povo e construtores de destinos coletivos, sempre à frente do seu tempo.
O que temos hoje, Senhor Redator? Continuadores de status pessoais e familiares, condutores de si mesmos, artífices do quanto mais, melhor. Das fáceis concessões do poder público às benesses em busca das quais se digladiam. Enquanto a sociedade luta através de sindicatos, associações e protestos coletivos em busca de saúde, segurança e educação, os jovens sequer vão olhar e ouvir as ruas. É que não é deles o destino de liderar. E por isso sequer ficam indignados diante da fome e da dor. Helàs
Nenhum comentário:
Postar um comentário