Quando não se sabe e não se pretende trabalhar, o único recurso é esse mesmo, inibir inclusive o direito do cidadão em reivindicar seus direitos. Encantei-me com Amanda Gurgel, agora a Polícia Civil fazendo um movimento pacífico, porém contundente ao governo. Eu não entendo por que os governos se sentem pessoalmente atacados quando os servidores protestam em busca de seus direitos. Nossos governantes esquecem que o status e o glamour adquiridos são na verdade ilusão paralela ao trabalho. O interessante é que parecem não saber que, o mesmo povo que os elegem e diante do qual, eles rastejam por voto, também tem a força de cobrar as promessas entusiastas de palanque. É isso, cuidado que a população pode não considerar as greves ilegais, e aí?
Qual outro instrumento democrático pode expor a insatisfação dos servidores municipais, estaduais e federais neste país? Por que, quem deve declarar as greves ilegais tem sempre que ser pessoas imbuídas de cargos que percebem salários e vantagens bem superiores aos reivindicantes? Como sentir a dor do povo para suster suas famílias, se não se sente na “pele” o mesmo ou similar drama? Vemos os jovens depois da gloriosa comemoração de ingresso na universidade, com a devida cobrança e a necessidade em fazer tudo valer a pena, enfrentar ainda a responsabilidade em atender a uma sociedade faminta e doente. Por que é tudo tão mesquinho e injusto? Por quê? Ainda pergunto eu, por que governantes, mesmo diante do caos da saúde, ainda teimam em fechar hospitais, unidades de saúde e não optam por restaurá-los, equipá-los e melhorar em qualidade e quantidade as equipes multidisciplinares e tem que fechar hospitais importantes e necessários? O povo tem respostas? Não.
Não entendo por que ainda acreditamos em políticas de palanque. Somos civilizados, conscientes e inteligentes (creio eu). E por que ainda nos sujeitamos a políticas nefandas e corruptas? Não há explicação. Medo? Talvez. Descaso? Não acredito. Conivência? Creio que não seríamos tão medíocres. O que então justifica a inércia social? Nós acreditamos nos governos (municipal, estadual e federal) ainda os consideramos entre outras esferas, como nossos porta-vozes (nem sei mais se separa com hífen). E eles? Sentem-se então, responsáveis pelos desígnios das sociedades? Sentem-se eles representantes legais do povo que os elegeu? Eu nem sei mais.
Quero acreditar no Brasil. Não, quero acreditar na sociedade. Ainda não. Quero acreditar no povo. Parece que eu quero acreditar em mim mesma. Sou filha da geração do medo. Sou fruto da sociedade castrada e desnutrida de cidadania. Sou ainda a negação da democracia. Quem foram os expurgados reais do nosso país ditador? Você, eu? Não, o cantor amnésico Geraldo Vandré e sua lenda: “Pra não dizer que não falei das flores”? Penso que não. Dependendo de como as “coisas” terão seu rumos, ninguém sairá ganhando. Ninguém é herói. Gostaria de poder dar vida a Wolverine (essa é pra você, Tsunami).
Precisamos urgentemente de um herói. Mas, uma ideia nova de herói. Não um herói morto, vencido, humilhado e ultrajado. Todavia precisamos urgentemente de um herói que possa compreender, assimilar e vencer usando as bandeiras de nossas dores e humilhações. Nós sustentamos os políticos do nosso país para nos esmagarem e fazerem de nós os palhaços da democracia? Por que então votamos? Uma realização sadomasoquista? Gostamos de sofrer? Ainda creio que não. Votamos em busca das diferenças, da nossa remição. E por isso votamos.
Na ânsia por vencer e fazer a diferença nós votamos exatamente em quem não parecia ser o candidato perfeito. Por acreditar em novos e diferenciais conceitos. Oh! Decepção não vale, entretanto é o que temos. “Tapa na cara”, quem manda o “temor servil”? Precisamos de uma pátria livre. Precisamos de um país que não se iluda com o fenômeno no futebol; que não se preocupe com um governo que apoia a corrupção; que não desvia sua atenção para assassinatos de outros de mesma estirpe. Precisamos de uma nação que foca os seus desígnios na elite pensante; que gera energia alternativa; que não se engana na configuração de seu mapa real e obsoleto de uma política arcaica e preconceituosa.
Neste país há heróis que aumentam em 20% sua fortuna em pouco tempo. Há também heróis que assassinam e que corrompem, que massacram e transformam em vísceras, ano a ano de nossa história caricaturesca, a sufragração nas urnas. Não sei mais o que dizer. Nem mesmo eu sei o que falei até aqui, todavia sei que o povo chora, o povo suplica e o povo apieda-se. Será que há coração e verdade em nossos governantes? Serão eles meros robôs ativados de mentes mesquinhas, doentias e infantis? Eu não sei. Nossos jovens não sabem. Mas, a sociedade manifesta-se paulatinamente. É preciso ter “manha” e ceder na hora certa, para quem é inteligente, para mentes sagazes. Será?
Gostaria muito de saber o que significa ser representante do povo. Pensei um dia em descobrir isso estudando, lendo, me aprofundando no cerne do complexo político das bases. Não encontrei respostas. Investi em pensar que ser representante do povo estava realmente configurado nas manifestações populares, mas também nelas havia afã político delineado pró ou contra alguém. Então decidi deixar que as marés da vida passassem por mim e revelassem o que realmente significa a democracia (esse governo do povo, pelo povo e para o povo)... Ousem saber... Não descobri.
E aí, o que dizer aos meus filhos? O que dizer a minha neta? Aos meus alunos? Aos jovens que pleiteiam seu lugar no universo produtivo do trabalho? Que vergonha... Não sei. Mas, sei de algo. Não somos os verdadeiros culpados desse retrato retrógado e inverossímil, acreditamos, votamos e tentamos mudar, só que, a cada mudança a decepção e as dores sobrevêm com mais força e com maior poder de dizimação. Resta-nos o velho e conhecido apelo de um dos “Severinos” da vida: “eu só quis dizer”...
E aí? Como ficamos? Há alternativas?
Bem, mas isso é outra história... Ou não?!
Texto escrito por Nimaira Maria de Sousa Cordeiro, pedagoga e Analista de Extensão Rural, publicado no Jornal Correio da Tarde, edição de 14/06/2011 e encaminhado ao Blog por Edmilson José
Nenhum comentário:
Postar um comentário