domingo, 22 de julho de 2012

Nosso amigo, era mais ou menos assim


               Por Ivan Pinheiro Bezerra

 Boa noite.
                Na fatídica tarde de domingo, dia 15 de julho de 2012 a cidade recebeu, com tristeza, a notícia do trágico falecimento de Antonio Terceiro, deixando a todos quebrantados. Havia pouco menos de três horas que Terceiro tinha estado no Centro Comercial da COHAB bebericando com os amigos, ouvindo músicas, dançando e rindo a toa. A notícia da sua morte chegou naquele recinto como se fosse uma dinamite explodindo no coração de cada um. De repente do riso fez-se o pranto. Os bares baixaram suas portas. Os taxistas e moto-taxistas se recolheram. O Centro Comercial ficou deserto... Tinha partido para nunca mais voltar o seu frequentador mais assíduo. Um cidadão que todo santo dia comparecia naquele recinto, independente de bebedeiras. Terceiro ia ao Centro Comercial porque se sentia bem, tinha a todos como amigos e irmãos. Inclusive era assim que ele tratava a todos: Meu amigo, meu irmão, meu doutor, meu vigia, meu patrão...  Ali, debaixo daqueles alpendres ou sob as sombras das frondosas mangueiras, Terceiro ouvia atentamente tribulações de pessoas amigas, trocava confidências, ideias, batia papo sobre futebol, política e outros assuntos de interesse social.
                Nas sextas-feiras, à tarde, a turma era fortalecida pelos funcionários públicos das três instâncias, alguns deles, assim como eu, eram seus velhos amigos de trabalho que vinham se divertir e tirar um pouco do estresse da semana.
                Certamente, as tardes das sextas-feiras naqueles bares não serão mais as mesmas. As duas cadeiras azuis do Bar de Gilmar, uma sobre a outra, para garantir o peso, não estarão no canto da parede ao lado da mesa de madeira. As maças verdes em um prato, seu tira-gosto preferido, não estarão à disposição dos frequentadores daquele recinto.  Infelizmente em cima da mesa não estarão seus 03 celulares, suas duas carteiras de free cinza e seu inseparável isqueiro. Nem estará o copo americano a espera de uma nova dose de Ipioca, ingerida, na maioria das vezes, impulsionada pelo refinado repertório da musica popular brasileira propagado pelo som de seu carro estacionado pertinho do balcão com a porta do motorista sempre aberta, para melhor ouvirmos aqueles deleites... Não! Estes objetos não estarão porque, não estará presente, fisicamente, o fumante, o apreciador de uma boa aguardente, o ouvinte e admirador de excelentes músicas... O nosso conselheiro, o analista político, o botafoguense, o assuense de coração Antonio Terceiro Felipe de Medeiros.
                Um amigo me abraçou durante o trajeto fúnebre e me indagou: Ivan, qual a graça do Centro Comercial sem Terceiro? E eu apenas balancei a cabeça afirmativamente sem saber o que responder. Depois, fiquei remoendo no juízo aquela pergunta. E, acredito que nunca chegarei a uma resposta convincente para aquela indagação... Porque, no meu ponto de vista, a graça que Terceiro tinha não era de fazer as pessoas rirem, não era de fazer presepadas ou contar anedotas, apesar de ser um admirador deste gênero... Sempre que ouvia uma boa piada soltava uma gostosa gargalhada que se destacava dos demais e, através dela, fazia outras pessoas rirem.
                  O que Terceiro tinha e que esparramava alegria pelo Centro Comercial da COHAB e por onde passava, era o seu estilo espontâneo de cumprimentar as pessoas: com um beijo na testa, com um aperto de mãos apertado, um abraço caloroso, uma conversa franca, agradável, sempre perguntando por notícias boas de parentes, aderentes e amigos comuns.
Terceiro só foi ‘terceiro’ no nome. Na sua biografia só poderemos classificá-lo como primeiro. Primeiro no respeito com as pessoas; primeiro no tratamento com seus familiares; primeiro nas suas amizades sinceras; primeiro na sua maneira determinada de sempre querer ajudar as pessoas; primeiro nos engajamentos das coordenações partidárias, nas articulações das alianças políticas; primeiro em inteligência para resolver equações matemáticas e informar, de cabeça, dias da semana em datas futuras, até com meses de antecipação... Não errava uma só data; primeiro a ligar para os aniversariantes do dia. Os parentes e amigos mais íntimos ele ligava a meia noite, aos primeiros segundos do dia do aniversário...; primeiro na tentativa de resolver problemas de saúde ou quaisquer outras dificuldades enfrentadas por seus amigos; primeiro na forma de aconselhar as pessoas... E, acima de tudo, primeiro na sua maneira humana de ser.
Terceiro também se destacou como primeiro pelos seus exageros: Foi primeiro no seu estilo veloz de dirigir; primeiro no consumo de banana (na média de 10 por cada refeição); primeiro na rapidez ao comer. Geralmente comia com uma colher e uma faca, dizia que o garfo trazia pouca comida, não servia...; primeiro na puxada forte a cada trago de um cigarro; primeiro no excedente de suas caminhadas matinais por cerca de duas horas, às vezes, até mais; primeiro na pressa ao tomar cada dose de Ipioca tão logo o dono do bar colocasse ao copo. Uma mosca nunca teve o prazer de cair em seu copo com bebida, estava sempre vazio... Tudo isso marcou, formou sua identidade... Mas uma particularidade que certamente ficará marcada no coração de seus familiares e amigos, era a forma espontânea utilizada por Antonio Terceiro Felipe de Medeiros, empreendendo forças em sua expressão corporal, para dizer, de coração, para os amigos e familiares: - “eu-te-amo”.                  
Terceiro foi um cidadão de conhecimentos apurados, a sabedoria e a humildade o fizeram um grande homem. Detentor de pensamento próprio, inquestionável... Talvez por esta razão tenha ultrapassado seus limites quando ousou dizer adeus aos seus próprios hábitos e ao seu povo.
Amigo Terceiro, vamos sentir muito a sua falta. Dizer-lhe adeus não é fácil. É um adeus doloroso, porque o amamos... Mas é um adeus sem tirá-lo dos nossos corações.
Amigo Terceiro, sede feliz ao lado de Deus Pai, todo poderoso... Nós-te-amamos!


Texto lido na missa de 7º dia pelo amigo Ivan Pinheiro Bezerra

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