Por Ivan Pinheiro Bezerra
Boa noite.
Na fatídica tarde de
domingo, dia 15 de julho de 2012 a cidade recebeu, com tristeza, a notícia do
trágico falecimento de Antonio Terceiro, deixando a todos quebrantados.
Havia pouco menos de três horas que Terceiro tinha estado no Centro
Comercial da COHAB bebericando com os amigos, ouvindo músicas, dançando e rindo
a toa. A notícia da sua morte chegou naquele recinto como se fosse uma dinamite
explodindo no coração de cada um. De repente do riso fez-se o pranto. Os bares
baixaram suas portas. Os taxistas e moto-taxistas se recolheram. O Centro
Comercial ficou deserto... Tinha partido para nunca mais voltar o seu
frequentador mais assíduo. Um cidadão que todo santo dia comparecia naquele
recinto, independente de bebedeiras. Terceiro ia ao Centro Comercial
porque se sentia bem, tinha a todos como amigos e irmãos. Inclusive era assim
que ele tratava a todos: Meu amigo, meu irmão, meu doutor, meu vigia, meu
patrão... Ali, debaixo daqueles
alpendres ou sob as sombras das frondosas mangueiras, Terceiro ouvia
atentamente tribulações de pessoas amigas, trocava confidências, ideias, batia
papo sobre futebol, política e outros assuntos de interesse social.
Nas sextas-feiras, à
tarde, a turma era fortalecida pelos funcionários públicos das três instâncias,
alguns deles, assim como eu, eram seus velhos amigos de trabalho que vinham se
divertir e tirar um pouco do estresse da semana.
Certamente, as
tardes das sextas-feiras naqueles bares não serão mais as mesmas. As duas
cadeiras azuis do Bar de Gilmar, uma sobre a outra, para garantir o peso, não
estarão no canto da parede ao lado da mesa de madeira. As maças verdes em um
prato, seu tira-gosto preferido, não estarão à disposição dos frequentadores
daquele recinto. Infelizmente em cima da
mesa não estarão seus 03 celulares, suas duas carteiras de free cinza e seu
inseparável isqueiro. Nem estará o copo americano a espera de uma nova dose de
Ipioca, ingerida, na maioria das vezes, impulsionada pelo refinado repertório
da musica popular brasileira propagado pelo som de seu carro estacionado
pertinho do balcão com a porta do motorista sempre aberta, para melhor ouvirmos
aqueles deleites... Não! Estes objetos não estarão porque, não estará presente,
fisicamente, o fumante, o apreciador de uma boa aguardente, o ouvinte e
admirador de excelentes músicas... O nosso conselheiro, o analista político, o
botafoguense, o assuense de coração Antonio Terceiro Felipe de Medeiros.
Um amigo me abraçou
durante o trajeto fúnebre e me indagou: Ivan, qual a graça do Centro Comercial
sem Terceiro? E eu apenas balancei a cabeça afirmativamente sem saber o
que responder. Depois, fiquei remoendo no juízo aquela pergunta. E, acredito
que nunca chegarei a uma resposta convincente para aquela indagação... Porque,
no meu ponto de vista, a graça que Terceiro tinha não era de fazer as
pessoas rirem, não era de fazer presepadas ou contar anedotas, apesar de ser um
admirador deste gênero... Sempre que ouvia uma boa piada soltava uma gostosa
gargalhada que se destacava dos demais e, através dela, fazia outras pessoas
rirem.
O que Terceiro tinha e que esparramava alegria pelo Centro
Comercial da COHAB e por onde passava, era o seu estilo espontâneo de
cumprimentar as pessoas: com um beijo na testa, com um aperto de mãos apertado,
um abraço caloroso, uma conversa franca, agradável, sempre perguntando por
notícias boas de parentes, aderentes e amigos comuns.
Terceiro só foi ‘terceiro’ no nome. Na sua biografia
só poderemos classificá-lo como primeiro. Primeiro no respeito com as pessoas;
primeiro no tratamento com seus familiares; primeiro nas suas amizades
sinceras; primeiro na sua maneira determinada de sempre querer ajudar as
pessoas; primeiro nos engajamentos das coordenações partidárias, nas
articulações das alianças políticas; primeiro em inteligência para resolver
equações matemáticas e informar, de cabeça, dias da semana em datas futuras,
até com meses de antecipação... Não errava uma só data; primeiro a ligar para
os aniversariantes do dia. Os parentes e amigos mais íntimos ele ligava a meia
noite, aos primeiros segundos do dia do aniversário...; primeiro na tentativa
de resolver problemas de saúde ou quaisquer outras dificuldades enfrentadas por
seus amigos; primeiro na forma de aconselhar as pessoas... E, acima de tudo,
primeiro na sua maneira humana de ser.
Terceiro também se destacou como primeiro pelos seus
exageros: Foi primeiro no seu estilo veloz de dirigir; primeiro no consumo de
banana (na média de 10 por cada refeição); primeiro na rapidez ao comer.
Geralmente comia com uma colher e uma faca, dizia que o garfo trazia pouca
comida, não servia...; primeiro na puxada forte a cada trago de um cigarro;
primeiro no excedente de suas caminhadas matinais por cerca de duas horas, às
vezes, até mais; primeiro na pressa ao tomar cada dose de Ipioca tão logo o
dono do bar colocasse ao copo. Uma mosca nunca teve o prazer de cair em seu
copo com bebida, estava sempre vazio... Tudo isso marcou, formou sua
identidade... Mas uma particularidade que certamente ficará marcada no coração
de seus familiares e amigos, era a forma espontânea utilizada por Antonio
Terceiro Felipe de Medeiros, empreendendo forças em sua expressão corporal,
para dizer, de coração, para os amigos e familiares: - “eu-te-amo”.
Terceiro foi um cidadão de conhecimentos apurados, a
sabedoria e a humildade o fizeram um grande homem. Detentor de pensamento
próprio, inquestionável... Talvez por esta razão tenha ultrapassado seus limites
quando ousou dizer adeus aos seus próprios hábitos e ao seu povo.
Amigo Terceiro, vamos sentir muito a sua falta. Dizer-lhe adeus
não é fácil. É um adeus doloroso, porque o amamos... Mas é um adeus sem tirá-lo
dos nossos corações.
Amigo Terceiro, sede feliz ao lado de Deus Pai, todo poderoso...
Nós-te-amamos!
Texto lido na missa de 7º dia pelo amigo Ivan Pinheiro Bezerra
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